sábado, 28 de fevereiro de 2009

As crises capitalistas de cada dia...

A crise econômica capitalista ocorrida no final do ano passado não trouxe apenas resultados catastróficos imediatos, ela desencadeou conseqüências desastrosas, que são sentidas até hoje, e, conseqüentemente ainda dará sinais de existência num futuro bem próximo.
De fato, esta não foi a primeira crise do sistema capitalista que temos notícia, nem tampouco será a última. A primeira grande crise ocorreu em 1929, com a quebra da bolsa de Nova York. Desemprego, fechamento de fábricas, aumento da pobreza, foram algumas das conseqüências já conhecidas por todos nós. Este fato desencadeou ainda, num efeito dominó, atingindo várias nações do mundo, inclusive o Brasil. Já na década de 70, ocorreu uma crise sem precedentes que atingiu a produção petrolífera, o resultado é que em apenas 1 ano o preço do barril de petróleo quadruplicou no mercado mundial.
Em 2000, o estouro da bolha, como ficou conhecida a crise. Resultou da especulação financeira internacional sobre as empresas Norte-americanas, essencialmente. Resultado: em cinco dias a Nasdaq, bolsa de tecnologia dos EUA, caiu 10%. Em seguida ocorreram as crises na Turquia e na Argentina, ambos em 2001. Como podemos observar, as crises econômicas são intrínsecas ao capitalismo, mas por que ocorrem as crises econômicas? As crises econômicas do sistema capitalista são resultado da superprodução de mercadorias. Naturalmente como o mercado não funciona de forma harmônica, há contradições entre a mercadoria que está sendo oferecida e a apropriação destas mesmas mercadorias pela população, ou seja, nem sempre o que é produzido em grande escala é consumido, isso é o fruto da contradição existente entre o desenvolvimento da produtividade, a diminuição da proporção de capital variável e a diminuição da base de extração da mais-valia, como analisou Marx.
As conseqüências da última crise são sentidas até hoje, no Brasil, por exemplo, a GM anunciou o corte de 1633 funcionários, a multinacional holandesa Philips anunciou a dispensa de 6 mil funcionários em todo o mundo, a poucos dias a EMBRAER, empresa fabricante de aviões, divulgou a demissão de mais de 400 empregados na fábrica do grande ABC. Só em São Paulo, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), 130 mil postos de trabalho foram fechados em dezembro de 2008 no setor industrial. Naturalmente, estas crises atingem principalmente o trabalhador, que ver os preços dos produtos aumentarem, seu emprego sendo cortado e a pobreza persistir.
Por isso, precisamos entender que as crises são inerentes ao capitalismo, só há crise quando a economia é tomada por uma ação anárquica da superprodução de mercadorias, na acumulação de capitais e na contradição do próprio sistema capitalista. Diante disto, é preciso acabar com este sistema opressor e construir o sistema cuja economia é baseada no atendimento dos anseios do povo e no fim de sua exploração, o socialismo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Conflitos no campo e impunidade

A pouco mais de quatro anos, exatamente no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, numa estrada pedregosa, falecia com o corpo crivado por seis balas, a missionária norte-americana, Dorothy Stang.
A religiosa dedicou mais da metade de sua vida na defesa dos direitos dos trabalhadores. Iniciou seus trabalhos na Região amazônica na década de setenta, desde o início sensibilizando-se com os trabalhadores rurais. Defendia veementemente uma reforma agrária que pudesse acabar com os latifúndios e promover a inserção da agricultura familiar, bem como o desenvolvimento sustentável. Promoveu amplo diálogo com lideranças políticas pelo fim dos conflitos na região, além disso, esteve presente na comissão parlamentar mista de inquérito sobre a violência no campo e denunciou o quadro de impunidade que permanecia no Estada do Pará, onde estava atuando, sobretudo a ação dos grileiros, que desrespeitavam terras já demarcadas.
Exatamente por ser destemida e lutar contra as injustiças no país e desafiar os interesses dos poderosos, acumulou inimigos, não os trabalhadores ou a gente pobre da região, mas sim, os seus inimigos, os grandes fazendeiros e os exploradores. Pelos interesses mesquinhos e gananciosos destes homens, que Dorothy tombou, ficaram as marcas da violência e o resultado da impunidade. Tanto que o principal acusado de mandante do crime, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, mais conhecido como taradão, foi posto em liberdade no dia 16 de fevereiro, pelo Tribunal Regional Federal, com o pedido de Habeas corpus, mesmo possuindo diversas outras acusações como crimes ambientais, fraudes contra a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e trabalho escravo na Região.
O caso da missionária foi apenas um dos muitos que ocorrem no Brasil, em 2007 foram contabilizados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) 1.538 conflitos e 28 mortes na disputa de terras. Outro número chocante é o de trabalhadores explorados, são 8.635, concentrados, essencialmente na lavoura da cana de açúcar.
Enquanto não promovermos uma reforma agrária ampla em nosso país, jamais poderemos acabar com os conflitos e as mortes no campo, é preciso acabar com o latifúndio, possibilitarmos a formação da agricultura familiar, organizar os trabalhadores em cooperativas camponesas, e acima de tudo, acabar com o clima de impunidade que ainda perdura no país. Enquanto não fizermos isso, dezenas, talvez centenas de Dorothy Stangs no Brasil, terão suas vidas destroçadas em nome do dinheiro.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Violência e banalidades

Talvez esta data, dia 07 de fevereiro de 2009, fique marcada para sempre na mente da mãe da jovem de 14 anos, assassinada juntamente com seu filho, ainda em seu ventre materno, na guerra de traficantes do Rio de Janeiro. Que importância tem para nós que corriqueiramente escutamos fatos de tal natureza nos telejornais diários e achamos tudo isso muito comum? Resmungamos algo do tipo: que absurdo! Ou mesmo: para onde caminha este país! E então voltamos rapidamente para os nossos afazeres como uma peça mecânica que funciona ao toque emblemático de um botão.
Que importância tem, quando seres humanos como nós, se acotovelam em pleno lixão na busca de sua sobrevivência diária: alimentos, roupas e até mesmo brinquedos. Que há de tão drástico assim, crianças dormirem embaixo de marquises em meio aos passos apressados dos transeuntes que se amontoam e se cruzam no centro da cidade, e o que dizer ainda, se por acaso falarmos de um horário em que o sol a pino chicoteia com veemência estas crianças, e eles, por algum motivo, nem dão conta desta situação.
Por que há de nos tocarmos com a população local, que em um acidente de caminhões que transportam mercadorias, se digladiam por esta mesma mercadoria, mesmo que no interior do veículo possam existir vítimas? A sobrevivência neste caso é mais importante que os sentimentos, por mais insignificantes que eles possam ser. Há fatos tão corriqueiros em nossa sociedade que os mesmos tornam-se banais, este é o caso da violência: ela está comumente disseminada no cotidiano das pessoas que ultrapassam os limites da normalidade. A violência em nosso país, mata mais que muitas guerras e sequer pensamos a respeito, achamos tudo normal, como se ela jamais possa nos atingir. Não paro de pensar um só minuto como esta mãe esteja se sentindo agora neste momento, deve está em prantos, coração amargurado, tentando achar uma explicação, há de culpar a polícia e suas investidas, muitas vezes inconseqüentes? Há de culpar os traficantes e seu poder paralelo, controlando os morros? Há de culpar a si mesma, como castigo enviado dos céus? O fato é que jamais terá sua filha de volta e jamais poderá acariciar e cuidar do neto que estava prestes a chegar. Jamais poderá parar de pensar em um fato tão drástico que acontecera. Ela sim, mesmo que clamasse para esquecer, talvez não conseguiria. Para nós, estes cidadãos indiferentes, restam-nos a reflexão e a escolha: continuaremos a venerar a normalidade ou inquietar-se, indignar-se, enfileirar-se aos que transformam este momento como um sentimento de revolta para transformar a sociedade que vivemos. Porque uma coisa hei de concordar com o Brecht: “nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.