terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Conflitos no campo e impunidade

A pouco mais de quatro anos, exatamente no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, numa estrada pedregosa, falecia com o corpo crivado por seis balas, a missionária norte-americana, Dorothy Stang.
A religiosa dedicou mais da metade de sua vida na defesa dos direitos dos trabalhadores. Iniciou seus trabalhos na Região amazônica na década de setenta, desde o início sensibilizando-se com os trabalhadores rurais. Defendia veementemente uma reforma agrária que pudesse acabar com os latifúndios e promover a inserção da agricultura familiar, bem como o desenvolvimento sustentável. Promoveu amplo diálogo com lideranças políticas pelo fim dos conflitos na região, além disso, esteve presente na comissão parlamentar mista de inquérito sobre a violência no campo e denunciou o quadro de impunidade que permanecia no Estada do Pará, onde estava atuando, sobretudo a ação dos grileiros, que desrespeitavam terras já demarcadas.
Exatamente por ser destemida e lutar contra as injustiças no país e desafiar os interesses dos poderosos, acumulou inimigos, não os trabalhadores ou a gente pobre da região, mas sim, os seus inimigos, os grandes fazendeiros e os exploradores. Pelos interesses mesquinhos e gananciosos destes homens, que Dorothy tombou, ficaram as marcas da violência e o resultado da impunidade. Tanto que o principal acusado de mandante do crime, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, mais conhecido como taradão, foi posto em liberdade no dia 16 de fevereiro, pelo Tribunal Regional Federal, com o pedido de Habeas corpus, mesmo possuindo diversas outras acusações como crimes ambientais, fraudes contra a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e trabalho escravo na Região.
O caso da missionária foi apenas um dos muitos que ocorrem no Brasil, em 2007 foram contabilizados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) 1.538 conflitos e 28 mortes na disputa de terras. Outro número chocante é o de trabalhadores explorados, são 8.635, concentrados, essencialmente na lavoura da cana de açúcar.
Enquanto não promovermos uma reforma agrária ampla em nosso país, jamais poderemos acabar com os conflitos e as mortes no campo, é preciso acabar com o latifúndio, possibilitarmos a formação da agricultura familiar, organizar os trabalhadores em cooperativas camponesas, e acima de tudo, acabar com o clima de impunidade que ainda perdura no país. Enquanto não fizermos isso, dezenas, talvez centenas de Dorothy Stangs no Brasil, terão suas vidas destroçadas em nome do dinheiro.

Um comentário:

  1. Enquanto isso, nosso Senador Jarbas Vasconcelos critica o Ministério do Trabalho por punir os latifundiários que escravizam os trabalhadores.
    Jarbas é da bancada escravista!

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