sábado, 7 de fevereiro de 2009

Violência e banalidades

Talvez esta data, dia 07 de fevereiro de 2009, fique marcada para sempre na mente da mãe da jovem de 14 anos, assassinada juntamente com seu filho, ainda em seu ventre materno, na guerra de traficantes do Rio de Janeiro. Que importância tem para nós que corriqueiramente escutamos fatos de tal natureza nos telejornais diários e achamos tudo isso muito comum? Resmungamos algo do tipo: que absurdo! Ou mesmo: para onde caminha este país! E então voltamos rapidamente para os nossos afazeres como uma peça mecânica que funciona ao toque emblemático de um botão.
Que importância tem, quando seres humanos como nós, se acotovelam em pleno lixão na busca de sua sobrevivência diária: alimentos, roupas e até mesmo brinquedos. Que há de tão drástico assim, crianças dormirem embaixo de marquises em meio aos passos apressados dos transeuntes que se amontoam e se cruzam no centro da cidade, e o que dizer ainda, se por acaso falarmos de um horário em que o sol a pino chicoteia com veemência estas crianças, e eles, por algum motivo, nem dão conta desta situação.
Por que há de nos tocarmos com a população local, que em um acidente de caminhões que transportam mercadorias, se digladiam por esta mesma mercadoria, mesmo que no interior do veículo possam existir vítimas? A sobrevivência neste caso é mais importante que os sentimentos, por mais insignificantes que eles possam ser. Há fatos tão corriqueiros em nossa sociedade que os mesmos tornam-se banais, este é o caso da violência: ela está comumente disseminada no cotidiano das pessoas que ultrapassam os limites da normalidade. A violência em nosso país, mata mais que muitas guerras e sequer pensamos a respeito, achamos tudo normal, como se ela jamais possa nos atingir. Não paro de pensar um só minuto como esta mãe esteja se sentindo agora neste momento, deve está em prantos, coração amargurado, tentando achar uma explicação, há de culpar a polícia e suas investidas, muitas vezes inconseqüentes? Há de culpar os traficantes e seu poder paralelo, controlando os morros? Há de culpar a si mesma, como castigo enviado dos céus? O fato é que jamais terá sua filha de volta e jamais poderá acariciar e cuidar do neto que estava prestes a chegar. Jamais poderá parar de pensar em um fato tão drástico que acontecera. Ela sim, mesmo que clamasse para esquecer, talvez não conseguiria. Para nós, estes cidadãos indiferentes, restam-nos a reflexão e a escolha: continuaremos a venerar a normalidade ou inquietar-se, indignar-se, enfileirar-se aos que transformam este momento como um sentimento de revolta para transformar a sociedade que vivemos. Porque uma coisa hei de concordar com o Brecht: “nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.


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